Vitalidade animal e no organismo agrícola
Este texto foi construído com base em uma palestra ministrada em Agosto de 2020, por Mônica Filomena Assis de Souza, médica veterinária especialista em homeopatia, agricultura biodinâmica e farmácia antroposófica e por Marco Cucco, seu marido também veterinário. Juntos eles são donos da empresa de homeopatia Sigo
Vitalismo
Vitalidade é conceitualizada por Mônica como: “a energia que anima todos os seres vivos.” Entende-se assim que ela é uma força organizadora que atua dentro de um contexto e quando ela se vai os seres vivos morrem. Ela compõe um campo energético, uma força que plasma a matéria de cada ser vivo. Em palavras antroposoficas, é o corpo etérico que anima os seres vegetais, animais e humanos.
Ao falar de vitalidade, Mônica amplia o conhecimento da antroposofia e da biodinâmica e entra no campo da homeopatia, escola de onde pega emprestado conceitos para a construção de seu conhecimento. Nesse contexto utiliza o termo vitalismo; sendo ele um dos núcleos da homeopatia assim como de outras terapias, a saber: a acupuntura, os florais, os preparados biodinâmicos e até mesmo o uso do calendário agrícola. Mas a vitalidade do que exatamente é buscada? Bem, a busca é pela vitalidade de tudo o que é vivo. Parece redundante dizer isso, mas não é já que atualmente se pode ampliar esse olhar e falar da vitalidade do solo, da paisagem e até mesmo da terra como um todo.
Vitalismo é definido como uma doutrina biológica que admite que exista um impulso vital, um impulso imaterial que controla os seres vivos e suas funções. O vitalismo se revela para nós todos os dias: desde a germinação de uma semente até o funcionamento dos órgãos de um ser complexo.
Um dos vieses da vitalidade é o princípio da semelhança. Existe uma experiência de Rudolf Steiner, utilizando Cloreto de Cobre in vivo que nos exemplifica um pouco como observar esse princípio em laboratório, de maneira mais científica e não empírica.
Steiner fez um experimento utilizando Cloreto de Cobre, um elemento mineral que apresenta um padrão de cristalização. Quando misturado com outras substâncias, o cloreto de cobre cristaliza com diferentes formatos, de acordo com a substância misturada. Steiner misturou esse elemento, em placas de petri, com suco de alguns órgãos e com sucos de diferentes plantas. O suco de coração apresentou um padrão de cristalização semelhante ao Cactus grandiflorus, a bile cristalizou seguindo o padrão da Chelidonium, e o rim da Capsella pastoris. Esse resultado demonstra que substâncias diferentes apresentam padrões de cristalização diferentes, porém algumas substâncias apresentam padrões semelhantes, como foi observado. Assim, quando encontramos um sal formando um cristal semelhante com um tecido animal e com uma planta acabamos de usar o cloreto de cobre para descobrir qual planta é boa para tratar determinado órgão. Esse é o princípio da semelhança. Conforme dito por Hipócrates: temos duas maneiras de curar: pelos opostos - o caso os antibióticos, que age na direção contrária matando quem ataca - e pelos semelhantes - que trabalha fortalecendo a força vital do órgão a ser curado.
Outra característica da força vital, trazida de maneira bem ilustrativa por Marco, é o conceito da Signatura: Quem trabalha com gado sabe: quando eles comem Brachiaria humidicola perdem cálcio porque o ácido oxálico da planta se liga ao cálcio circulante no sangue do gado. O Andropogon, outro capim, também é rico no ácido oxálico e abraça o cálcio do sangue, assim como a Setaria. O que observei é que quando o
ácido oxálico vem da Brachiaria, ele rouba o cálcio do organismo e causa problema ósseo. O animal perde osso que é substituído por fibrose e começa inclusive a perder os dentes. Ao comer Setaria, faz com que o cálcio se deposite no glomérulo renal e o animal morre de insuficiência renal, por cálculos. O Andropogon mata apenas o sexo masculino porque ele causa cálculos na uretra do macho, porque ela tem um formato de S enquanto a fêmea consegue expulsar os cálculos. Por que o mesmo elemento químico provoca reações tão diferentes? Eles vêm de plantas diferentes, tendo assim uma signatura diferente. Isso tem tudo a ver com o vitalismo. Cada planta imprime uma capacidade diferente na mesma substância química. De acordo com Paracelso as plantas assumem determinada forma, devida sua signatura vital, e assim formam substâncias que mesmo tendo a mesma fórmula química, causam diferentes sintomas.
Conforme dito no início do texto, a vitalidade atua dentro de um contexto. Um exemplo disso é ilustrado pelo comportamento dos hepatócito do fígado: no momento de uma doação de órgãos temos uma oportunidade de observar a vitalidade. Ao “desligar” o fígado de uma pessoa com morte cerebral e ao colocá-lo nas condições de temperatura, salinidade e todas as demais condições necessárias para conservar esse órgão, observa-se que os hepatócitos entram em um estado amebóide. Ao colocar esse fígado na pessoa receptora, ligando-o aos vasos sanguíneos acontece a mágica. Ele volta a funcionar e produzir hormônios! Isso demonstra que nosso organismo tem uma força vital que rege todas as funções. No momento em que se tira algum órgão desse campo, ele para de funcionar, mesmo estando vivo. Com se o órgão precisasse estar dentro de um contexto específico para agir como tal. Essa força invisível que organiza a matéria faz com que um fígado seja ele mesmo.
Mas essa força plasmadora pode entrar em desequilíbrio e assim as funções vitais podem sofrem “desvios”. Essa é uma boa maneira de perceber a vitalidade: com sua ausência! Isso é causado, sobretudo, pelo estresse. A matéria passa inclusive por transformações físicas e chega a ficar “feia.” De fato no stress se não perde matéria, mostrando assim que existe uma força “imaterial” atuando. Essa é uma experiência que já foi vivida pela maioria dos seres vivos. Uma noite bem dormida parece apontar nesse sentido, assim como uma alimentação equilibrada: melhora as dores, melhora o tônus muscular, a vista e até a percepção do indivíduo sobre si próprio.
Os animais e o organismo agrícola
Em linguagem antroposófica, os animais são os portadores do astral no organismo agropecuário. A astralidade difere os animais das plantas, que são portadoras apenas do etérico. O homem exerce influência na astralidade do organismo agrícola ao colocar animais agropecuários. Importante lembrar que antes de trabalhar com essas práticas, e como já indicado por Steiner, é importante trabalhar a nós mesmos: o autoconhecimento e a consciência. A falta deles faz com que tomemos atitudes que nem sempre são as melhores. A autoconsciência é tão importante quanto os aspectos técnicos.
Como descrito por Mônica: Eu vi na minha vida, em 30 e poucos anos de formada, dois lugares equilibrados. Lugares em que não é necessário o homem atuar com sua consciência para retomar o equilíbrio. Todos os outros, que foram muitos, sempre havia desequilíbrio em algum grau. O desequilíbrio da vitalidade é o mais comum.
Parece natural concluir que falta consciência na maioria das iniciativas de produção agropecuária.
Quando se tira os animais silvestres de seu ambiente natural e substitui por uma monocultura aparecem as “pragas”, em uma tentativa de equilibrar esse sistema. O ambiente, já sem todos os seus elementos, tenta de diversas maneiras se harmonizar e restabelecer. Observa-se que ao equilibrar um organismo agropecuário com técnicas vitalistas, esse organismo passa a receber animais silvestres, sendo esses indicadores de que aquele organismo está próximo ao equilíbrio.
O ataque por formigas cortadeiras é uma realidade típica da maioria dos organismos agropecuários e um sinal de desequilíbrio. Em um primeiro momento elas fazem montículos, ficam muito agressivas e chegam a acabar com uma árvore em uma noite. Esse comportamento de hiperatividade, hiperplasia, hiperego, é chamado de sycose, conceito enunciado por Samuel Hahnemann, médico alemão que desenvolveu a homeopatia. O mesmo efeito se vê em vacas com mastite e verrugas. Tudo que aumenta o volume vem desse lugar de hiperatividade. Depois de um tempo nesse comportamento observa-se um efeito rebote no ambiente como um todo: vem a fase da hipoplasia ou destruição, chamada por syphilis.
A formiga está demonstrando um problema muito maior de desequilíbrio do ambiente do que apenas o fato delas cortarem o que interessa ao homem. As pessoas tentam matá-la ou matar seus fungos. Esse tipo de ação é como dar antibiótico para uma pessoa doente. Matar a formiga só está tirando à força vital do organismo agrícola, tirando a ferramenta que ela tinha para voltar ao equilíbrio. Não vamos conseguir acabar com elas; assim como colocar mais comida para elas não vai melhorar a situação, é um saco sem fundo. O que falta é o nitrogênio, falta o astral no ambiente. Quando se decide, conscientemente, não ter animais na propriedade somado ao fato de não haver animais silvestres, a formiga preenche o papel desse nitrogênio que falta.
O que precisa ser feito em casos de ataques é acalmar o sistema como um todo trazendo o equilíbrio do astral, que se reflete no acalmamento das formigas. Elas passam a fazer seu trabalho de maneira ordenada. Passam a pegar mais matéria orgânica do chão e não cortam tanto as folhas vivas. Quando se sonega ao animal algo que ele precisa ele vai buscá-lo de alguma maneira. Isso causa as patologias. A patologia é uma busca pelo equilíbrio.
Quando não se consegue, por exemplo, dar espaço suficiente a um animal o medicamento chega para dar a ele tolerância para aquele ambiente. Às vezes o homem não consegue deixar o animal nas condições que ele precisa. Em um ambiente equilibrado a necessidade dos medicamentos, inclusive os vitalistas, vai diminuindo.
Existem alguns fatores que ajudam no restabelecimento da vitalidade. Fatores esses que o homem pode, conscientemente, interferir de maneira positiva. São eles: (1) Ambiência, (2) Instalações adequadas, (3) Boa relação homem x animal, uma relação próxima (4) Manejo visando o bem estar animal (5) Uso de terapias vitalistas (6) Promover o resgate do arquétipo: de como era o ambiente.
Mesmo sendo um campo imaterial, a vitalidade se expressa no corpo físico vivo assim pode ser percebida de diversas maneiras. No caso de animais, a qualidade do alimento produzido por ele é um parâmetro, ou seja, a qualidade do leite, do ovo, da
carne e até mesmo do pelo. Tem aspectos mais subjetivos como o brilho dos olhos, a famosa janela da alma; aspectos comportamentais como a tríade: disposição, apetite e sono; e até aspectos mais “materialistas” como a temperatura e pressão arterial. é comum ouvir dizer o termo está com o pulso cheio ou com o pulso débil.
Monica termina sua apresentação com a seguinte citação de Thomas Göbel, entendida como um convite: “Quando os seres humanos se unem em nobre missão, seus respectivos anjos também se unem. E quando uma assembleia de homens e anjos se unem em amor, sempre lá estará o arcanjo.”
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